segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Pé de cachimbo

É domingo. Finalzinho de domingo. Eu não tenho muito o que fazer a não ser reclamar dos efeitos colaterais dos antialérgicos que eu tenho ingerido nos últimos dias. Sonolência, inquietação, confusão e irritação. Esses efeitos são os responsáveis por esse meu desânimo dominical.
Sendo assim, já que eu não posso me concentrar em nenhuma atividade que envolva o meu raciocínio lógico, não há nada melhor pra se fazer hoje do que ficar o dia todo mortificado no sofá, acompanhado de uma maratona de alguns seriados que ando a assistir com gosto: Heroes, Pushing Daisies e House. Receita ideal para esse dia odioso.
Meus desânimos dominicais não são apenas causado pelo uso excesivo de medicamentos. O fato é que eu geralmente não gosto de domingos, nunca gostei. É o dia (sempre foi) que eu prefiro ficar zombificado em casa, sem fazer, falar, gesticular nada. Não tenho saco pra quem ainda tá animado porque o fim de semana não acabou. Não tenho saco pra quem anda com aquele sorriso típico de domingo pós-missa estampado no rosto.
Domingo é um dia bem estressante aqui em casa desde os meus bons tempos de moleque. É o dia em que meu pai vai embora (viajar acho que seria uma palavra melhor). É o dia em que a minha mãe está desesperada com a bagunça da casa, com as coisas do meu pai que ela precisa arrumar, com a segunda que está chegando. É o dia em que a família toda se encontra em casa: sobrinhos, irmã, cunhado, cachorro da irmã, avós.
As crianças gritam, a minha irmã fala alto, meu cunhado resmunga, minha mãe se embravece, o meu pai aumenta o volume da tv e o cachorro late. Muito barulho, muita gente falando ao mesmo tempo. Às vezes me fazem lembrar uma cena de algum filme italiano dos anos 50.
Talvez pelo fato de seu ser muito calado, essa profusão de sons caóticos me irrita um pouco. E como o meu papel social é reclamar de tudo, passo o dia todo resmungando sobre a falta de privacidade e da poluição sonora, e a única resposta que eu recebo é o olhar da minha mãe de: “O que eu não consigo entender como é que um filho meu é tão diferente assim de mim”.
A razão de toda essa liberdade sonora, visual e sei lá mais o que por parte dos meus pais, é devido ao fato de que eles assumiram de vez o papel de anfitriões de reuniões familiares. E de certa forma, eles sentem essa necessidade de reunir todos enquanto tá tudo certo, a partir do momento que no último ano o ceifador sinistro tem rondado a família. Vendo por esse lado, eu até consigo achar graça dos meus domingos. É bacana sentar a mesa com mais de duas pessoas (geralmente eu almoço sozinho no restante da semana, talvez até por isso eu tenha criado um meio solitário de vida). Mas de qualquer jeito, esse climão de "ceia de natal" me deprime. E se eu to deprimido, eu reclamo. E esse é o meu papel. Reclamar de tudo, até das coisas que eu gosto. Eu sou oficialmente o velho resmungão da casa.

Notas de rodapé:
- Pushing Daisies é a melhor série do mundo ever. Merece um tópico futuro somente para ela
- Eu não sou hipocondríaco, nem uma pessoa que ta sempre doente (isso tem um nome que eu não me lembro agora).

Um comentário:

Jorge Teixeira disse...

É 'Pede cachimbo mano
num viu a Melissa falando

o melhor do texto foi o começo
'É domingo. tipo o 'Parece inevitável do rafa

vida longa aos bloggers