Sobre o filme, eu posso ficar horas falando do que achei. Como já deu pra perceber, eu padeço do mal de pseudocrítico. Pra encurtar, eu só vou dizer que é um senhor filme. Eu que costumo gostar de todos os trabalhos do Paul Thomas Anderson, já imaginava o quanto esse seria bom.
Mas o que o me chamou a atenção no filme, e o motivo de eu estar escrevendo, é a relação entre a personagem principal, Daniel, o homem do petróleo e de seu filho. De alguma forma, me fez lembrar o meu relacionamento com o meu pai. Não que meu pai seja um cara megalomaníaco a ponto de me renegar em algum momento da vida, pelo contrário, meu pai apesar de ser um cara durão, é a personificação de um pai de família à moda antiga.
Meu pai é um cara reservado, de poucas palavras. Ele é todo brincalhão, sempre fazendo comentários repletos de palavrões sobre tudo. Mas ele mantém um relacionamento diferente com os filhos. Ele não deixa de ser um pai brincalhão, mas com o passar dos anos, o relacionamento fica restrito a apenas olhares e sinais.
No filme, o pai e filho têm um relacionamento ótimo enquanto este é criança. Assim que o menino cresce ele e o pai começam a se distanciar. É mais ou menos o que aconteceu comigo. Nos últimos vinte anos eu conheci diferentes caras do meu pai.
Eu costumo dividir meu relacionamento com ele em quatro fases: dos 0 aos 6 em que ele extremamente brincalhão e presente; dos 7 aos 11, um pouco mais sério e bem mais ausente; dos 12 aos 18, relacionamento sem troca de palavras e olhares e ausência total; e dos 19 até os dias de hoje, em que a gente pelo menos consegue trocar algumas palavras.
Quando eu falo de relacionamento pai e filho, não estou me referindo aquele clichê de propagando do Itaú, tô falando de um sentimento de amizade entre nós, assim como existe com as mães. Em alguns momentos, eu e meu pai éramos nada um do outro. A gente nem se notava.
É claro que o fato de eu ver o meu pai somente aos fins de semana ajudou muito pra manter . E acredito que isso colaborou para que em certos momentos da vida eu exigisse internamente que ele fosse parecido com a minha mãe, que diversas vezes exerceu o papel de pai muito bem.
Outra coisa que colaborou para esse afastamento mútuo, é que nos não temos nenhum interesse em comum. Nada mesmo. Ele tem interesse por mecânica e coisas desse tipo. Eu nunca me interessei pra saber como montava e desmontava um caminhão.
Além disso, ele consegue ser o cara mais fechado e tímido que eu conheço. E como eu padeço desse mal, eu sei como é difícil pra manter amizade ou qualquer coisa com alguém. É algo parecido com aquela história de que quando pai e filho são tão parecidos, eles sempre se desentendem.
Eu sou bem parecido com meu pai. Eu prefiro ouvir a falar, evito ter muito contato com as pessoas. Não sei demonstrar meus sentimentos. Porém, como fui criado pela minha mãe na maior parte do tempo e integralmente na minha adolescência, eu tenho um diferencial. Eu tenho pouco desse lado excessivamente emocional dela, porém, internalizado.
Até hoje, os dois Josés tem alguns assuntos que fogem da nossa pauta, é isso que me incomodava. Meu pai muitas vezes, é um estranho pra mim. É uma página que eu estou aprendendo a ler. Eu aprendi a interpreta-lo quando entendi que esse é o jeito do meu pai de gostar das pessoas. É a maneira como ele foi criado. Meu pai é um típico homem do velho testamento, rústico, calado. Exatamente como era o pai dele. Exatamente como eu sou, apenas um pouco alterado pelo fator minha mãe.
Apesar de hoje ter esse relacionamento de amizade com o meu pai, existe uma certa estranheza entre nós. Eu percebo que ele tem muita vergonha de pedir alguma coisa pra mim, assim como eu tenho de perguntar algo pra ele. Minha mãe até hoje agradece a São Judas pelo nosso começo de amizade. E isso é bacana, perceber que apesar de todos esses anos de indiferenças, eu não ganhei um pai, eu ganhei um bom amigo.
senhores, essa é a minha foto preferida