quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Aquele sobre o Sr. José

Dias doentes sempre foram sinônimos de semana de filme para mim. Aliás, são os únicos dias que eu sento em frente à tv pra ver os grandes lançamentos do verão passado. E seguindo essa lógica, essa semana, vivendo o restinho da minha crise labiríntica, eu aluguei o Sangue Negro. Um filme que há muito eu tava a fim de ver.
Sobre o filme, eu posso ficar horas falando do que achei. Como já deu pra perceber, eu padeço do mal de pseudocrítico. Pra encurtar, eu só vou dizer que é um senhor filme. Eu que costumo gostar de todos os trabalhos do Paul Thomas Anderson, já imaginava o quanto esse seria bom.
Mas o que o me chamou a atenção no filme, e o motivo de eu estar escrevendo, é a relação entre a personagem principal, Daniel, o homem do petróleo e de seu filho. De alguma forma, me fez lembrar o meu relacionamento com o meu pai. Não que meu pai seja um cara megalomaníaco a ponto de me renegar em algum momento da vida, pelo contrário, meu pai apesar de ser um cara durão, é a personificação de um pai de família à moda antiga.
Meu pai é um cara reservado, de poucas palavras. Ele é todo brincalhão, sempre fazendo comentários repletos de palavrões sobre tudo. Mas ele mantém um relacionamento diferente com os filhos. Ele não deixa de ser um pai brincalhão, mas com o passar dos anos, o relacionamento fica restrito a apenas olhares e sinais.
No filme, o pai e filho têm um relacionamento ótimo enquanto este é criança. Assim que o menino cresce ele e o pai começam a se distanciar. É mais ou menos o que aconteceu comigo. Nos últimos vinte anos eu conheci diferentes caras do meu pai.
Eu costumo dividir meu relacionamento com ele em quatro fases: dos 0 aos 6 em que ele extremamente brincalhão e presente; dos 7 aos 11, um pouco mais sério e bem mais ausente; dos 12 aos 18, relacionamento sem troca de palavras e olhares e ausência total; e dos 19 até os dias de hoje, em que a gente pelo menos consegue trocar algumas palavras.
Quando eu falo de relacionamento pai e filho, não estou me referindo aquele clichê de propagando do Itaú, tô falando de um sentimento de amizade entre nós, assim como existe com as mães. Em alguns momentos, eu e meu pai éramos nada um do outro. A gente nem se notava.
É claro que o fato de eu ver o meu pai somente aos fins de semana ajudou muito pra manter . E acredito que isso colaborou para que em certos momentos da vida eu exigisse internamente que ele fosse parecido com a minha mãe, que diversas vezes exerceu o papel de pai muito bem.
Outra coisa que colaborou para esse afastamento mútuo, é que nos não temos nenhum interesse em comum. Nada mesmo. Ele tem interesse por mecânica e coisas desse tipo. Eu nunca me interessei pra saber como montava e desmontava um caminhão.
Além disso, ele consegue ser o cara mais fechado e tímido que eu conheço. E como eu padeço desse mal, eu sei como é difícil pra manter amizade ou qualquer coisa com alguém. É algo parecido com aquela história de que quando pai e filho são tão parecidos, eles sempre se desentendem.
Eu sou bem parecido com meu pai. Eu prefiro ouvir a falar, evito ter muito contato com as pessoas. Não sei demonstrar meus sentimentos. Porém, como fui criado pela minha mãe na maior parte do tempo e integralmente na minha adolescência, eu tenho um diferencial. Eu tenho pouco desse lado excessivamente emocional dela, porém, internalizado.
Até hoje, os dois Josés tem alguns assuntos que fogem da nossa pauta, é isso que me incomodava. Meu pai muitas vezes, é um estranho pra mim. É uma página que eu estou aprendendo a ler. Eu aprendi a interpreta-lo quando entendi que esse é o jeito do meu pai de gostar das pessoas. É a maneira como ele foi criado. Meu pai é um típico homem do velho testamento, rústico, calado. Exatamente como era o pai dele. Exatamente como eu sou, apenas um pouco alterado pelo fator minha mãe.
Apesar de hoje ter esse relacionamento de amizade com o meu pai, existe uma certa estranheza entre nós. Eu percebo que ele tem muita vergonha de pedir alguma coisa pra mim, assim como eu tenho de perguntar algo pra ele. Minha mãe até hoje agradece a São Judas pelo nosso começo de amizade. E isso é bacana, perceber que apesar de todos esses anos de indiferenças, eu não ganhei um pai, eu ganhei um bom amigo.

senhores, essa é a minha foto preferida

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Fikadika



-O que você está ouvindo?
-The Shins. Conhece?
-Não.
-Você precisa ouvir essa música, vai mudar a sua vida.


Tá aí a música que segundo o filme vai mudar a sua vida. A banda, The Shins nem é tão novidade, nem tudo isso pra ser chamada de a banda que vai mudar a vida de alguém (a não ser a do Zach Braff). Assim como o Garden State, o filme que me apresentou a banda (e essa música bonitinha do vídeo acim) há alguns anos.
De qualquer forma, fica ai a dica de uma boa banda estadunidense (que por algum motivo eu não paro de ouvir na últimas semanas) e de um filme bem interessante repleto daqueles clichês que todo mundo adora.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Pé de cachimbo

É domingo. Finalzinho de domingo. Eu não tenho muito o que fazer a não ser reclamar dos efeitos colaterais dos antialérgicos que eu tenho ingerido nos últimos dias. Sonolência, inquietação, confusão e irritação. Esses efeitos são os responsáveis por esse meu desânimo dominical.
Sendo assim, já que eu não posso me concentrar em nenhuma atividade que envolva o meu raciocínio lógico, não há nada melhor pra se fazer hoje do que ficar o dia todo mortificado no sofá, acompanhado de uma maratona de alguns seriados que ando a assistir com gosto: Heroes, Pushing Daisies e House. Receita ideal para esse dia odioso.
Meus desânimos dominicais não são apenas causado pelo uso excesivo de medicamentos. O fato é que eu geralmente não gosto de domingos, nunca gostei. É o dia (sempre foi) que eu prefiro ficar zombificado em casa, sem fazer, falar, gesticular nada. Não tenho saco pra quem ainda tá animado porque o fim de semana não acabou. Não tenho saco pra quem anda com aquele sorriso típico de domingo pós-missa estampado no rosto.
Domingo é um dia bem estressante aqui em casa desde os meus bons tempos de moleque. É o dia em que meu pai vai embora (viajar acho que seria uma palavra melhor). É o dia em que a minha mãe está desesperada com a bagunça da casa, com as coisas do meu pai que ela precisa arrumar, com a segunda que está chegando. É o dia em que a família toda se encontra em casa: sobrinhos, irmã, cunhado, cachorro da irmã, avós.
As crianças gritam, a minha irmã fala alto, meu cunhado resmunga, minha mãe se embravece, o meu pai aumenta o volume da tv e o cachorro late. Muito barulho, muita gente falando ao mesmo tempo. Às vezes me fazem lembrar uma cena de algum filme italiano dos anos 50.
Talvez pelo fato de seu ser muito calado, essa profusão de sons caóticos me irrita um pouco. E como o meu papel social é reclamar de tudo, passo o dia todo resmungando sobre a falta de privacidade e da poluição sonora, e a única resposta que eu recebo é o olhar da minha mãe de: “O que eu não consigo entender como é que um filho meu é tão diferente assim de mim”.
A razão de toda essa liberdade sonora, visual e sei lá mais o que por parte dos meus pais, é devido ao fato de que eles assumiram de vez o papel de anfitriões de reuniões familiares. E de certa forma, eles sentem essa necessidade de reunir todos enquanto tá tudo certo, a partir do momento que no último ano o ceifador sinistro tem rondado a família. Vendo por esse lado, eu até consigo achar graça dos meus domingos. É bacana sentar a mesa com mais de duas pessoas (geralmente eu almoço sozinho no restante da semana, talvez até por isso eu tenha criado um meio solitário de vida). Mas de qualquer jeito, esse climão de "ceia de natal" me deprime. E se eu to deprimido, eu reclamo. E esse é o meu papel. Reclamar de tudo, até das coisas que eu gosto. Eu sou oficialmente o velho resmungão da casa.

Notas de rodapé:
- Pushing Daisies é a melhor série do mundo ever. Merece um tópico futuro somente para ela
- Eu não sou hipocondríaco, nem uma pessoa que ta sempre doente (isso tem um nome que eu não me lembro agora).

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Gritando confissões

A probabilidade de algo dar errado quando tudo não tão indo bem é incomensurável. Logo, a chance de dar merda em cinco de dez ações planejadas e/ou desejadas são imensas, principalmente quando são no campo sentimental.
Eu tenho uma teoria estranha formulada no fundo da minha imaginação fértil e away, segundo a qual não existe amor. Graças a essa teoria, já fui chamado inúmeras vezes de frio e insensível.
Pode até parecer um pouco frio da minha parte, eu concordo, mas eu sempre enxerguei o amor como uma forma evoluída de um outro sentimento, a consideração.
Aquilo que é chamado de amor não é nada mais que um dispositivo social. As pessoas “aprendem” desde o dia em que abandonam o útero que devem sentir tal sentimento nobre por alguém. É esperada a representação desse sentimento como uma resposta pela consideração, apego, necessidade e afeto. Entretanto, o amor é apenas uma forma de manter a unidade e os interesses de uma espécie. É apenas a liberação de serotonina necessária para o sentimento de completude.
O amor visa à reprodução, é a mais pura desculpa para o sexo, além de manter os interesses sociais a salvo através da constituição de um modo de vida monogâmico e eterno enquanto dure.
Como já foi dito nessas mal traçadas linhas, o amor é apenas o instinto de reprodução latente que se concretiza em uma longa vida monogâmica, que o tempo é responsável por transformá-lo na mais pura consideração e ponto. Tudo retorna ao começo. Aquela consideração necessária e arbitraria lá do início da vida retorna com o passar dos anos.
Infelizmente ninguém está alheio a esse ciclo (eu não gosto de generalizar, mas enfim...), até o cara mais frio (eu) um dia cai de quatro por alguém. E geralmente esse alguém não sente o mesmo. Ai inicia-se outro ciclo, o do amor platônico (uma cópia barata do pensamento egocêntrico infantil. Barata e mal evoluída).
No meu caso, eu acredito que seja mais tesão platônico do que amor. É apenas uma necessidade de se acasalar e ter algo pra chamar de meu. É um ter porque eu quero. É um ter tão egocêntrico que faria Narciso e sua vaidade egocêntrica se contorcerem de tanta vergonha. É a evolução de um instinto associado com uma necessidade social internalizada na minha pessoa, que nada mais é do que uma desculpa pra doer, sofrer e se magoar com a rejeição e com o ciúme.
Esse tal de amor/consideração é um sentimento tão estranho que te transforma às vezes em um ser patético, quando se esta ao lado de quem gosta. É como se naqueles 5 minutos nada fosse tudo, e o tudo é a maior representação do êxtase. Um sorrisinho já é o suficiente para promover uma excelente noite de sono, e a falta desse sorrisinho ou daquele olhar de aprovação que parece dizer: “oi, eu notei sua presença”, são responsáveis por te fazer ouvir músicas vazias, choramingar pelos cantos e escrever confidências quando você deveria estar fazendo o trabalho da faculdade.
Lá no começo do tópico, eu escrevi que quando algo pode dar errado, o universo conspira para que tudo realmente de errado, do bater o dedinho do pé na porta à levar bandeirada na rua. E isso meus amigos, é a mais pura verdade. A minha avó costumava fazer uma analogia entre a escolha de um parceiro e a escolha de uma privada. Segundo ela, as pessoas escolhem uma privada com muito cuidado, e mesmo assim enfiam a cabeça na privada mais suja e fedida. Hoje eu diria que a minha avó tem toda a certeza. Eu achei a minha privada suja e fedida e estou completamente atolado nela, parecido com o cara do Trainspotting.
Mesmo sabendo que aquele comichão que você tá sentindo lá embaixo é apenas a gênese de uma dor de cotovelo enorme, você deixa a piniqueira falar mais alto do que a massa cinzenta dentro do seu crânio e se joga na grande fossa dos boêmios.
Provavelmente amanhã eu vou estar com vergonha de ter socializado essas palavras, e de ter transformado isso aqui numa espécie de diário virtual The OC. Mas nesse momento eu precisava dividir isso com alguém, mesmo que fosse pra ser chamado de otário. E como aqui é o meu boteco, eu me sinto um pouco a vontade pra falar de tudo, de diarréia à dor de corno. Senta ai e pega uma cerveja.

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lovin' is what I got I said remember that