segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Malditas ervilhas

Algum dia do ano de 1995:
-mãe, tira a ervilha da minha comida.
-por quê?
-porque eu odeio ervilhas, odeio ter que separá-las. Não sei porque você coloca essa coisa ruim na comida.
-porque dá sabor, e além do mais, o senhor precisa comer coisas que te façam bem.
-e desde quando alguma coisa que venha numa lata faz bem?
-desde que eu disse que faz.
-cê podia para de usar ervilha pelo menos na torta. Fica um gosto de frango com vela.
-mas eu gosto e vou continuar usando.

Algum dia do ano de 2008:
-pô mãe, você colocou ervilha de novo?
-é pra dar sabor.
-só se for sabor de parafina. Eu odeio ervilha, mãe. Muito mesmo.
-nossa, não sabia disso.
-mãe, eu venho te dizendo isso nos últimos quinze anos.
-mas não sabia que era assim.
-era só olhar o meu prato de domingo que você teria a resposta.
-se você tivesse me falado eu não teria colocado.
silêncio ofegante
-tá bom então, agora que você já sabe, por favor, não coloque mais ervilha ou milho em qualquer prato que eu gosto. Nem no arroz, na empada, na salada de maionese, e muito menos na torta de frango, certo?
-fechô então.

Neste domingo acordo e sinto o cheiro de um dos meus pratos prediletos: arroz de forno. Com muito tudo. Molho com carne moída, presunto, mussarela, queijo prato derretido e...ervilhas. Centenas, milhares delas, todas tão verdinhas e sorridente, espalhadas por todos os cantos do meu prato. Pareciam pequenos mostrinhos verde com olhares vitoriosos que diziam: "vencemos mais uma batalha, bitch. Agora me come".

paint é a nova tendência

Um comentário:

Jorge Teixeira disse...

Zé quando pequeno: "eu odeio ervilhas, odeio ter que separá-las!"

Vejam como fica a linguagem de uma criança exposta às interações sócio-cuturais com ervilhas mais maduras da cultura

HOiuashpudohasuahsduapuasdhaui