Estávamos sentados quase lado-a-lado, apenas separados por alguns caras mal-encarados e bêbados. Eu, um pouco incomodado com o local e com o público que o freqüentava; ela, distraída com a conversa das amigas.
Confesso que eu estava ali por obrigação. Eu era carona. e na minha função social, eu era obrigado a ir aonde o dono do carro quisesse. E aquela festa estranha com gente obscena e embriagada era o destino daquela noite.
Eu olhava de segundo em segundo no relógio. Não me sentia tão só e desconfortável desde os longínquos intervalos da quinta série, quando eu era o típico nerd sem amigos.
Ela também estava lá contra a própria vontade. Havia sido arrastada por uma amiga que tinha marcado um encontro com um rapaz naquela festa. Mas ao contrário de mim, ela morava perto e poderia ir embora assim que quisesse.
Até os caras com alto grau etílico entre nós se levantarem, eu não havia notado a presença dela. Nem ela havia me visto. Assim que eles se dispersaram, eu pude ver pela primeira vez a silhueta daquela linda moça.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi uma das tatuagens que ela tinha nas costas. Não me lembro exatamente do desenho, apenas sei que era um círculo preto. Para ser sincero, não reparei em muitos detalhes. Eu me apeguei apenas ao fato de que ela havia me interessado e que eu não iria embora sem ela.
Ela deu uma olhada tímida para trás e por alguns milésimos de segundos, me olhou no fundo dos olhos. Foi bem rápido, mas o suficiente pra me fazer ficar prestando atenção em cada movimento que ela fazia e em cada palavra que ela dizia.
Ela contava para as amigas algumas histórias da faculdade, também fazia comentários sobre alguns meninos da festa. Eu prestava atenção em cada letra, até que ela começou a murmurar para as amigas. Assim que eu levantei a cabeça, vi uma das amigas olhando para mim e sorrindo. Percebi que ela estava falando de mim. Toda a adrenalina presente no meu corpo foi de zero a cem em milésimos de segundo, o suficiente pra me enrubescer e me desorientar.
Resolvi levantar, tomar alguma atitude, nem que fosse pra dizer um oi. A única coisa que eu consegui foi sorrir quando passei por ela. Um sorrisinho simpático, repleto de segundas intenções. Ela me retribui com um sorriso tão safado quanto. Seguido de olhares tímidos.
Quando voltei para o lugar, ela já estava sozinha. As amigas haviam saído. Era uma indireta certeira, um: “oi, você poderia tomar uma atitude?” Mas o máximo que eu consegui fazer foi continuar sorrindo, ainda mais tímido. E assim a gente permaneceria, mostrando os dentes um para o outro durante horas, se ela não tivesse levantando e “esbarrado” no meu chinelo.
-Desculpe, chutei seu chinelo.
-Imagina, não foi nada - respondi, balançando a cabeça.
-Pra falar a verdade, eu chutei seu chinelo intencionalmente.
-Eu sei.
Ela esboçou um sorriso tímido, deixando a mostra seus pequenos dentes quadrados e juntinhos.
-Convencido! – disse ela, ainda ostentando aquele belo sorriso no rosto.
-Não diria isso. Diria covarde, pois eu deveria ter “chutado” o seu chinelo.
-Bem, meu chinelo tá aqui. Você pode chutar quando quiser.
-Pra que chutar o seu chinelo se eu tenho coisas mais interessantes pra fazer.
-Tipo?
-Conhecer melhor a dona deles.
-Prazer, Eduarda.
-Junior, e o prazer é todo meu.
Por alguns milésimos de segundo ficamos em silêncio, apenas olhando um para o outro.
-Total Eclipse of the heart – disse ela, numa tentativa de retornar à conversa.
-quê?
-A música que tá tocando.
-Pô, até que agora tá melhor. Agora há pouco tocou Lionel Richie.
-Hello?
-A própria.
-Pra completar tem que tocar Time After Time.
-Logo toca, eles deixaram ligado na Antena 1.
-Antena 1 toca música de rádio de cozinha de mãe – balançou os ombros. - Não é bem o tipo de música para uma festa desse tipo.
-Talvez seja proposital. Músicas que dão idéias ruins pra pessoas com idéias ruins.
-O ambiente aqui tá cheio de coisas propositais, não?
-Cê vê, não é só você e seus chutes.
Pela primeira vez, ela me olhou com firmeza, como se quisesse mudar o tom da conversa para algo mais sério.
-Tá certo então, seu Junior – disse ela, já com os lábios trêmulos.
-Pô, me chama de Jú. Eu deixo – eu disse, e ela balançou a cabeça concordando.
-Então tá, Jú – respondeu, colocando ênfase no u.
-Certo, Duda – respondi fazendo uma careta.
-E você tá sozinho, Jú?
-Não mais.
-E você é sempre assim, tão oferecido?
-Nem sempre, apenas hoje.
-Devo aproveitar?
-Fica à vontade.
Confesso que eu estava ali por obrigação. Eu era carona. e na minha função social, eu era obrigado a ir aonde o dono do carro quisesse. E aquela festa estranha com gente obscena e embriagada era o destino daquela noite.
Eu olhava de segundo em segundo no relógio. Não me sentia tão só e desconfortável desde os longínquos intervalos da quinta série, quando eu era o típico nerd sem amigos.
Ela também estava lá contra a própria vontade. Havia sido arrastada por uma amiga que tinha marcado um encontro com um rapaz naquela festa. Mas ao contrário de mim, ela morava perto e poderia ir embora assim que quisesse.
Até os caras com alto grau etílico entre nós se levantarem, eu não havia notado a presença dela. Nem ela havia me visto. Assim que eles se dispersaram, eu pude ver pela primeira vez a silhueta daquela linda moça.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi uma das tatuagens que ela tinha nas costas. Não me lembro exatamente do desenho, apenas sei que era um círculo preto. Para ser sincero, não reparei em muitos detalhes. Eu me apeguei apenas ao fato de que ela havia me interessado e que eu não iria embora sem ela.
Ela deu uma olhada tímida para trás e por alguns milésimos de segundos, me olhou no fundo dos olhos. Foi bem rápido, mas o suficiente pra me fazer ficar prestando atenção em cada movimento que ela fazia e em cada palavra que ela dizia.
Ela contava para as amigas algumas histórias da faculdade, também fazia comentários sobre alguns meninos da festa. Eu prestava atenção em cada letra, até que ela começou a murmurar para as amigas. Assim que eu levantei a cabeça, vi uma das amigas olhando para mim e sorrindo. Percebi que ela estava falando de mim. Toda a adrenalina presente no meu corpo foi de zero a cem em milésimos de segundo, o suficiente pra me enrubescer e me desorientar.
Resolvi levantar, tomar alguma atitude, nem que fosse pra dizer um oi. A única coisa que eu consegui foi sorrir quando passei por ela. Um sorrisinho simpático, repleto de segundas intenções. Ela me retribui com um sorriso tão safado quanto. Seguido de olhares tímidos.
Quando voltei para o lugar, ela já estava sozinha. As amigas haviam saído. Era uma indireta certeira, um: “oi, você poderia tomar uma atitude?” Mas o máximo que eu consegui fazer foi continuar sorrindo, ainda mais tímido. E assim a gente permaneceria, mostrando os dentes um para o outro durante horas, se ela não tivesse levantando e “esbarrado” no meu chinelo.
-Desculpe, chutei seu chinelo.
-Imagina, não foi nada - respondi, balançando a cabeça.
-Pra falar a verdade, eu chutei seu chinelo intencionalmente.
-Eu sei.
Ela esboçou um sorriso tímido, deixando a mostra seus pequenos dentes quadrados e juntinhos.
-Convencido! – disse ela, ainda ostentando aquele belo sorriso no rosto.
-Não diria isso. Diria covarde, pois eu deveria ter “chutado” o seu chinelo.
-Bem, meu chinelo tá aqui. Você pode chutar quando quiser.
-Pra que chutar o seu chinelo se eu tenho coisas mais interessantes pra fazer.
-Tipo?
-Conhecer melhor a dona deles.
-Prazer, Eduarda.
-Junior, e o prazer é todo meu.
Por alguns milésimos de segundo ficamos em silêncio, apenas olhando um para o outro.
-Total Eclipse of the heart – disse ela, numa tentativa de retornar à conversa.
-quê?
-A música que tá tocando.
-Pô, até que agora tá melhor. Agora há pouco tocou Lionel Richie.
-Hello?
-A própria.
-Pra completar tem que tocar Time After Time.
-Logo toca, eles deixaram ligado na Antena 1.
-Antena 1 toca música de rádio de cozinha de mãe – balançou os ombros. - Não é bem o tipo de música para uma festa desse tipo.
-Talvez seja proposital. Músicas que dão idéias ruins pra pessoas com idéias ruins.
-O ambiente aqui tá cheio de coisas propositais, não?
-Cê vê, não é só você e seus chutes.
Pela primeira vez, ela me olhou com firmeza, como se quisesse mudar o tom da conversa para algo mais sério.
-Tá certo então, seu Junior – disse ela, já com os lábios trêmulos.
-Pô, me chama de Jú. Eu deixo – eu disse, e ela balançou a cabeça concordando.
-Então tá, Jú – respondeu, colocando ênfase no u.
-Certo, Duda – respondi fazendo uma careta.
-E você tá sozinho, Jú?
-Não mais.
-E você é sempre assim, tão oferecido?
-Nem sempre, apenas hoje.
-Devo aproveitar?
-Fica à vontade.