sábado, 10 de outubro de 2009

mãos lentas




Can't you see what you've done to my heart and soul?
This is a wasteland now


Tamaê ok.

sábado, 3 de outubro de 2009

9552 horas

Colocou aquela blusa preta com capuz e ensaiou a sua saída pela porta da frente. Sair por aquela porta significava muito pra ele. Depois de 398 dias conseguiria pela primeira vez ficar livre dela. Sentia como se pudesse respirar novamente.
Disse algumas poucas palavras, numa tentativa de fazê-la se sentir culpada por aquela saída, mas não conseguiu. Ela nem o olhava, mantinha a cabeça baixa enquanto tirava o esmalte vermelho das unhas, daquele mesmo jeito cruel e frio dos últimos meses.
Ele não soube o que fazer. Olhou pro sofá do canto, tentou evitar trocas de olhares, sorrisos ou palavras. Pensou em diversos assuntos, nas muitas coisas não resolvidas, sobre o quanto ele estava feliz em sair da vida dela, quem ia ficar com o gato e com o pôster do Joy Division, mas não conseguiu pronunciar uma palavra sequer.
Alguns segundos de quietude foram suficientes para que ele descobrisse que não sentiria falta dela, e que estava pronto pra deixá-la ali naquele sofá. Ela, seu mau humor crônico e seu egoísmo. Outubro já batia a porta, e a vida voltaria a ter graça longe dela.
Assim que ele seguiu em direção a porta, ela cedeu.
- Deixa a sua chave na mesinha.
Saiu pela porta com a sensação de que nada havia acontecido

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Do verbo haver

Havia dois invernos, manhãs nubladas e pores-do-sol laranja. Havia clipes metálicos, fios de cabelo e pedaços de papel rabiscados por sei-lá-quem sobre a mesa. Havia vertigens (sempre as vertigens), excesso de cafeína e abstinência de nicotina. Havia bocejos, coriza e dores musculares. Havia treze reais e algumas moedas de dez centavos, nove horas e alguns poucos minutos e três pedaços e meio de chiclete. Havia cheiro de pão na chapa, xícaras de café esparramadas e farelos de bolo de fubá. Havia efeitos de ansiolíticos, excesso de vitamina B6 e ausência de paracetamol. Havia longos silêncios seguidos de vozes femininas em tom alto, sussurros e respirações ofegantes. Havia crianças e camisetas coloridas, reclamações patéticas e nomes engraçados. Havia baboseiras sem sentido, palavras monossilábicas e a sensação de que tudo aquilo iria acontecer novamente. Havia canções tristes do Blur, menções a Borges e frases do Gilmore Girls. Havia tudo, menos você.
pra ouvir: Blur - Tender

sexta-feira, 22 de maio de 2009

-Ontem eu sonhei com você novamente.
-Novamente?
-A sua presença tem sido uma constante no meu inconsciente.
-O que você sonhou dessa vez?
-Eu sonhei que nós eramos "nós" novamente.
-E como era?
-Eu tinha você perto de mim, mas tinha medo de te perder de novo.
-E isso faz sentido?
-Sonhos não fazem sentido.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Uma noite qualquer de Abril

Já passa das nove horas da noite. A lua aparece um pouco tímida no céu. Na rua, somente eu e alguns perdidos comemorando o feriado. Eu me sinto um pouco sufocado. Talvez a junção do feriado com o calor infernal me incomode um pouco.
Olho pro lado e vejo duas moças semi-nuas. Elas me olham e sorriem libidinosamente. Depois fazem algum comentário que eu não consigo ouvir. Um pouco à frente um cachorro revira o lixo. Ele fica um pouco assustado, talvez temendo a minha reação. Mais à frente, passa outro cachorro por mim. Me sinto tendo um déjà vu.
As luzes silenciosas da cidade e a brisa da noite me fazem sentir um pouco melhor. Me ajudam esquecer você por um instante. Esquecer a sua ausência. A falta que a sua falta faz.
Até acredito que a minha caminhada noturna tenha mais de você do que do calor. A minha caminhada com fundo sonoro de Modest Mouse. E Modest Mouse me lembra você. Assim como o cheiro da noite. Você ainda se faz perceptível na minha vida. Você continua sendo intragável e indigerível. Você é como um remédio que pesa no estômago e me causa efeitos colaterais. E mesmo assim, ainda sou dependente de você. Ainda sou apaixonado por uma menina mais desorientada que eu.
Mais uma noite quente e vazia de abril na minha vida.


Pra ler ouvindo: Modest Mouse – Trailer Trash

domingo, 12 de abril de 2009

Aos 23

Até parecia que o ponteiro do relógio andava ainda mais vagarosamente a cada segundo. É incrível como quando se espera por uma determinada hora, parece que os minutos demoram dias pra passar. O ponteiro dos segundos anda como se estivesse catando pedrinhas.
E os dois pareciam crianças olhando incessantemente para o relógio. Era como a espera pela meia-noite do dia de natal.


-00:00.
-Mais uma velinha para o seu bolo.
-Já dá pra fazer uma cerquinha ao redor do meu bolo.
(...)
-E aí, como você se sente?
-Uns dois minutos mais velho.
-Mais alguma coisa?
-Alguns primeiros sinais de artrite, artrose e esclerose.
-Parabéns, irmão coruja.
-Valeu irmã fuinha.

domingo, 15 de março de 2009

Fritando com o Franz

Sobre o cd novo do Franz Ferdinand, só tenho uma coisa a dizer:



Enjoy it!

domingo, 15 de fevereiro de 2009

06 de Julho

Estávamos sentados quase lado-a-lado, apenas separados por alguns caras mal-encarados e bêbados. Eu, um pouco incomodado com o local e com o público que o freqüentava; ela, distraída com a conversa das amigas.
Confesso que eu estava ali por obrigação. Eu era carona. e na minha função social, eu era obrigado a ir aonde o dono do carro quisesse. E aquela festa estranha com gente obscena e embriagada era o destino daquela noite.
Eu olhava de segundo em segundo no relógio. Não me sentia tão só e desconfortável desde os longínquos intervalos da quinta série, quando eu era o típico nerd sem amigos.
Ela também estava lá contra a própria vontade. Havia sido arrastada por uma amiga que tinha marcado um encontro com um rapaz naquela festa. Mas ao contrário de mim, ela morava perto e poderia ir embora assim que quisesse.
Até os caras com alto grau etílico entre nós se levantarem, eu não havia notado a presença dela. Nem ela havia me visto. Assim que eles se dispersaram, eu pude ver pela primeira vez a silhueta daquela linda moça.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi uma das tatuagens que ela tinha nas costas. Não me lembro exatamente do desenho, apenas sei que era um círculo preto. Para ser sincero, não reparei em muitos detalhes. Eu me apeguei apenas ao fato de que ela havia me interessado e que eu não iria embora sem ela.
Ela deu uma olhada tímida para trás e por alguns milésimos de segundos, me olhou no fundo dos olhos. Foi bem rápido, mas o suficiente pra me fazer ficar prestando atenção em cada movimento que ela fazia e em cada palavra que ela dizia.
Ela contava para as amigas algumas histórias da faculdade, também fazia comentários sobre alguns meninos da festa. Eu prestava atenção em cada letra, até que ela começou a murmurar para as amigas. Assim que eu levantei a cabeça, vi uma das amigas olhando para mim e sorrindo. Percebi que ela estava falando de mim. Toda a adrenalina presente no meu corpo foi de zero a cem em milésimos de segundo, o suficiente pra me enrubescer e me desorientar.
Resolvi levantar, tomar alguma atitude, nem que fosse pra dizer um oi. A única coisa que eu consegui foi sorrir quando passei por ela. Um sorrisinho simpático, repleto de segundas intenções. Ela me retribui com um sorriso tão safado quanto. Seguido de olhares tímidos.
Quando voltei para o lugar, ela já estava sozinha. As amigas haviam saído. Era uma indireta certeira, um: “oi, você poderia tomar uma atitude?” Mas o máximo que eu consegui fazer foi continuar sorrindo, ainda mais tímido. E assim a gente permaneceria, mostrando os dentes um para o outro durante horas, se ela não tivesse levantando e “esbarrado” no meu chinelo.

-Desculpe, chutei seu chinelo.
-Imagina, não foi nada - respondi, balançando a cabeça.
-Pra falar a verdade, eu chutei seu chinelo intencionalmente.
-Eu sei.
Ela esboçou um sorriso tímido, deixando a mostra seus pequenos dentes quadrados e juntinhos.
-Convencido! – disse ela, ainda ostentando aquele belo sorriso no rosto.
-Não diria isso. Diria covarde, pois eu deveria ter “chutado” o seu chinelo.
-Bem, meu chinelo tá aqui. Você pode chutar quando quiser.
-Pra que chutar o seu chinelo se eu tenho coisas mais interessantes pra fazer.
-Tipo?
-Conhecer melhor a dona deles.
-Prazer, Eduarda.
-Junior, e o prazer é todo meu.
Por alguns milésimos de segundo ficamos em silêncio, apenas olhando um para o outro.
-Total Eclipse of the heart – disse ela, numa tentativa de retornar à conversa.
-quê?
-A música que tá tocando.
-Pô, até que agora tá melhor. Agora há pouco tocou Lionel Richie.
-Hello?
-A própria.
-Pra completar tem que tocar Time After Time.
-Logo toca, eles deixaram ligado na Antena 1.
-Antena 1 toca música de rádio de cozinha de mãe – balançou os ombros. - Não é bem o tipo de música para uma festa desse tipo.
-Talvez seja proposital. Músicas que dão idéias ruins pra pessoas com idéias ruins.
-O ambiente aqui tá cheio de coisas propositais, não?
-Cê vê, não é só você e seus chutes.
Pela primeira vez, ela me olhou com firmeza, como se quisesse mudar o tom da conversa para algo mais sério.
-Tá certo então, seu Junior – disse ela, já com os lábios trêmulos.
-Pô, me chama de Jú. Eu deixo – eu disse, e ela balançou a cabeça concordando.
-Então tá, Jú – respondeu, colocando ênfase no u.
-Certo, Duda – respondi fazendo uma careta.
-E você tá sozinho, Jú?
-Não mais.
-E você é sempre assim, tão oferecido?
-Nem sempre, apenas hoje.
-Devo aproveitar?
-Fica à vontade.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Ócio musical

Há que dizer, que são poucos os meus amigos que gostam das mesmas coisas que eu. Eu até admito que o meu gosto por música, cinema e até por séries possa parecer (e ser) um pouco estranho. Mas se tratando de amigos e companheiros de bom gosto e muito bem informados, eu esperava um número maior de pessoas que dividissem comigo a paixão por bandas vindas do cafundó do Judas.
Atualmente eu conheço apenas duas pessoas que possuem um gosto parecido com o meu. Uma delas, posso dizer que me ensinou muita coisa sobre música boa, e a outra ainda está aprendendo sobre o mundinho "alternativo".
O fato de ter apenas esses dois amigos "Rob Gordon", me fez evitar falar de música nesses espaço. Afinal, os meus amigos torcem o nariz para as minhas sugestões de bandas. Porém, contudo, entretanto, eu tive uma visão divina que me disse (ou seja, não foi apenas uma visão) pra voltar a falar das merdas que eu aprecio. E a primeira a ser escolhida é o Club 8.

meninës do Club 8

Primeiramente devo confessar que torci muito o meu nariz para essa dupla. Sempre achei banda de menininho wannabe-indie. Descobri que eu estava enganado. Também devo dizer que eu só escutei o som dessa dupla agora, nesse meu momento tédio de férias + desemprego + consumo elevado de nicotina e baixo consumo de cafeína. Momento propício para escutar músicas tristes.
Fato é que esse "momento reflexivo" da minha vida, me apresentou a uma das músicas mais bonitinhas que eu ouvi nesse ano que acaba de começar. Whatever you like é tão bonitinha, mas tão bonitinha, que eu peço licença pra utilizar a palavra fofa. É muito fofinha. Como diria a companheira Karina, é tão fofa quanto gatinhos fazendo não lembro o que.
Ta aí o vídeo da tal música fofinha pra quem deseja conhecer coisas novas, e um pedaço da letra transcrita por esse que vos escreve.


"And if I don't fall this night
I will have to go along
unless something strange will happen
there is still something to be done
this story will go on for long"

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Quase um segundo

-Não sei o que dizer.
-Nem eu. Acho que o silencio é a única resposta nesse momento.
-Eu em sinto envergonhado.
-Por que?
-Sei lá, me sentindo um pouco bobo, imaturo devido as coisas idiotas que eu disse e fiz.
-Poxa, você ta sendo paranóico. Você não disse e nem fez nada errado.
-Sabe, é a segunda vez que eu passo por isso em seis meses. E é ainda mais difícil quando se esta realmente gostando de alguém.
-Mas a gente deixou bem claro que as coisas nunca deveriam chegar aonde elas chegaram. Na realidade, você deixou isso bem claro.
-Eu sei, mas fala isso pro meu coração. Eu sei que eu tô sendo brega, pedante, mas eu sou assim. Quando eu sinto algo, eu me apego fácil. Fácil até demais. Depois eu faço drama digno de seriado médico.
-O que você tá sentindo?
-Sei lá, é uma mistura de sentimentos. Tá tudo muito confuso. Talvez você não entenda, mas muita coisa mudou na minha vida desde que te conheci.
-Como assim?
-Desde o dia em que vi pela primeira vez os seus olhos tristes, o seu cabelo colorido, a sua meia colorida, eu me senti estranho, perdido. Eu me tornei o senhor confuso desde então. Mesmo sendo tão curto o tempo que a gente ficou junto.
-Eu também tô confusa.
-Acho que essa confusão que acabou com tudo.
-Mas não é um fim. É só um momento pra gente ficar sozinho, pra pensar.
-Mas muita coisa acontece durante esse momento. E as coisas entre nós talvez nunca mais sejam as mesmas. O jornal da fila do pão não será mais ou mesmo.
-Eu sei.
-Eu gosto de você
-Eu também.
-Então é isso. Espero que você seja feliz, e que pelo menos ainda seja a minha amiga.
-Eu te desejo o mesmo, e espero que você fique bem.
-Pode deixar, eu supero.

pra ler ouvindo: "Today" - Smashing Pumpkins